(por Grace Stelmach) "Eu aposto num flamenco com uma mão agarrada à tradição e com a outra à inovação. É muito importante não perder a tradição porque é onde mora a essência, a mensagem, a magia". Paco de Lucía
É praticamente impossível definir a trajetória exata do Flamenco - de onde veio e quando surgiu. Afinal um universo cultural tão rico e diverso não se forma da noite para o dia. Na verdade suas origens são incertas e existem pouquíssimos registros de seus ciclos de desenvolvimento. O que se sabe mesmo é que o Flamenco é uma cultura genuinamente popular. Foi criada pelos ciganos, a partir da mistura de influências de povos que passaram pela Andaluzia no decorrer dos séculos. Entre eles: comerciantes gregos e fenícios, romanos, conquistadores visigodos, árabes e mouros, hebreus. Esta nova forma musical originou-se das gitanerias (agrupamentos ciganos) e foi tradicionalmente passada através das gerações pelos clãs familiares dos ciganos. Muitas são as opiniões em torno das raízes da palavra "Flamenco". Alguns estudiosos acreditam que seja uma derivação da má pronúncia das palavras árabes "fela" e "mengu", que juntas significam "camponês fugitivo".
Sempre perseguidos por causa do modo de vida nômade, os ciganos criaram o Flamenco como forma de expressão de suas alegrias e tristezas. Os cantos de lamento constituem a origem da arte flamenca e retratam a dramaticidade tão presente no estado de espírito do povo espanhol. Formado pela estrutura guitarra - cante – baile, seus diferentes ritmos têm características e intenções bastante particulares. A guitarra (violão) marca os compassos e a melodia. Normalmente é acompanhada por outros instrumentos percussivos além de palmas, "pitos" (estalar de dedos) e o cante. Na segunda metade do século 19, ganham popularidade os "Cafés Cantantes". Em tese, eram bares onde aconteciam "recitais" da arte flamenca. Esses cafés marcaram o início da fase áurea do Flamenco, entre 1870 e 1920. Nesta época o flamenco foi amplamente popularizado e divulgado. Os ciganos acabaram por se integrar à sociedade. Músicos e bailarinos sentiram-se atraídos pela cultura flamenca e revisitaram suas origens. Cresceu a demanda por intérpretes para atuar nos tablaos (tablados - casas com pequenos palcos para apresentações). Os payos - não ciganos – buscaram interpretações próprias para a música gitana, o que estimulou o intercâmbio entre músicos flamencos, populares e até clássicos, possibilitando a sua mistura a outros ritmos.
Novos instrumentos como o cajón - instrumento rítmico de madeira em forma de caixote - e as tão características castanholas foram adotados e assimilados. A partir dos anos de 1920 o Flamenco entra na fase teatral, e daí por diante nem tudo andou tão bem. Com tantas influências, a cultura flamenca foi perdendo identidade. Segundo estudiosos, os recursos cênicos usados durante as apresentações públicas não refletiam a dramaticidade e a verdade das raízes gitanas-andaluzas. No entanto, nem todas as experiências foram negativas. No terreno do baile, as tentativas de associação do flamenco à estética do ballet clássico alcançaram resultados bastante positivos. No início do século 20, o pianista nascido em Cádiz, Manuel de Falla, promoveu o renascimento das tradições e dos temas populares da música típica espanhola e criou obras que foram levadas aos palcos e encenadas, como "Amor Brujo", "El Sombrero de Três Picos", entre outros, reunindo elementos do baile cigano-andaluz e do Teatro.
Da Andaluzia para o Mundo Desde então o Flamenco vem se renovando tanto no baile como na música. Paco de Lucía, um dos grandes violonistas espanhóis vivos, encabeça a revolução que viveu o Flamenco nas últimas décadas. Ele transcendeu as tradicionais formas e repertórios do flamenco, adicionou o baixo elétrico e instrumentos de sopros. Também incorporou elementos latinos, afro-peruanos e de jazz à sua música. Os puristas do Flamenco não aprovaram o "Nuevo Flamenco" de Paco acusando-o de inconseqüente. No entanto os menos radicais o receberam como o legítimo sucessor dos mestres do flamenco moderno: Sabicas, Ramon Montoya e Niño Ricardo. No cante, Camarón de La Isla foi o mais popular e influente cantor de flamenco do período moderno. No baile, Carmen Amaya revolucionou o Flamenco. Uma das mais respeitadas representantes da dança flamenca na atualidade, Eva La Yerbabuena, reconhecida pela crítica como a melhor bailaora de sua geração, disse sobre Amaya: "Hasta entonces, la mujer se había negado la fuerza y ¿por qué una mujer no puede tener fuerza?.Y no se trata sólo de los pies, sino también de la mirada, de un movimiento de hombro, de la cabeza... era fuerte y frágil al mismo tiempo, y también femenina. Era tenerlo todo y, sobre todo, ser muy personal".
Yerbabuena, também tem enriquecido o flamenco acrescentando influências da dança moderna e contemporânea. Outros artistas como Enrique Morente e Antônio Gades, profundos conhecedores da cultura flamenca, também trouxeram novos caminhos para o Flamenco, sem perder suas raízes originais. E até os dias de hoje, bailaores e músicos continuam em busca de novos conceitos rítmicos e vocais, mesclando o flamenco a novos estilos, enriquecendo a arte flamenca sem esquecer de sua identidade cigana-andaluza. Ainda hoje, os principais centros flamencos estão localizados em cidades e bairros que serviram de refúgio para os ciganos em tempos antigos: Alcalá, Utrera, Jerez, o Bairro de Triana em Sevilha. Prova de que os gitanos são tradicionais e valorizam sua história. Atualmente a arte flamenca está difundida pelos quatro cantos do mundo e através dos tempos tem provado-se única e incomparável, pulsante, expressiva e muito temperamental.
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